FOGUEIRA DO MORTO

Aqui em Kariri-Xocó desde os tempos dos índios, mais velhos temos um costume, quando morre uma pessoa da tribo, a família do morto acende uma fogueira na porta da casa do finado. Quando já é noite , chega as pessoas da tribo para visitar o finado, entram na casa olha para o morto na sala, estirado com os pés virado á porta , que indica não retornarás jamais ao mundo dos vivos. As pessoas vem chegando e se ajeitando ao redor da fogueira, uns com cadeiras, outros com esteiras pra dormir na porta, alguns ficam em pé, começa a roda de histórias do morto, de suas façanhas em vida na tribo. Fala das pescarias que ele participou, do trabalho na roça, dos mutirões, das caçadas na mata. Aqueles mais velhos de sua geração falam do início da vida do finado, das brincadeiras, das ações, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas. A família do morto coloca no fogo o café para ferver e oferecer aos presentes na sentinela do finado, traz os pães , entrega os canecos para esquentar os bofes “tomar café quente”. O terreiro da casa fica repleta de pessoas, uns acordados contando histórias, outros dormindo com crianças, nas esteiras, o dia vem amanhecendo, quando o Sol começa a nascer é sinal de ir para a casa, para tomar um banho e cuidar logo para acompanhar o morto no enterro. Apesar desse momento de sentimento da família do morto, a “ Fogueira do Morto “, trás boas lembranças, do finado que foi umas pessoa presente na vida tribal, deixou sua marca na cultura, seja na luta, na arte, trabalho, canto, dança ou ação qualquer, de bom de ruim, mas ficou algo marcado. Nhenety Kariri-Xocó Guardião da Tradição Oral.